Formulamos esses exercícios aliando a leitura de gêneros textuais distintos, a crônica e o conto. Buscamos desenvolver a compreensão leitora através da ampliação do conhecimento da história brasileira, uma vez que a leitura crítica e adequada da crônica e do conto selecionados implica a pesquisa do contexto histórico e social a que os textos remetem.
Os textos a partir dos quais elaboramos as questões são a crônica Meninos, eu vi... Vocês viram também, mas acho que esqueceram., de Arnaldo Jabor, e o conto Feliz ano novo, de Rubem Fonseca.
Esse conto pode ser encontrado no livro Feliz ano novo, de Rubem Fonseca; na obra organizada por Ítalo Moriconi, Os cem melhores contos brasileiros do século; no link www.releituras.com/rfonseca_feliz.asp
MENINOS, EU VI...
VOCÊS VIRAM TAMBÉM, MAS ACHO QUE ESQUECERAM.
[...] eu vi a história andando em marcha a ré e eu entendi ali, com o Jânio saindo, que os bons tempos da utopia de JK tinham acabado, que alguma coisa suja e negra estava a caminho como um trem fantasma andando pra trás.
Depois, meninos, eu vi o fogo queimar a UNE, onde chegaria o "socialismo tropical", em abril de 64, quando fugi pela janela dos fundos, enquanto o General Mourão Filho tomava a cidade, dizendo: "Não sei nada. Sou apenas uma vaca fardada!"
Eu vi, meninos, como num pesadelo, a população festejando a vitória do fascismo, com velas na janela e rosários na mão; vi a capa do "O Cruzeiro" com o novo presidente da República de boné verde, baixinho, feio, quem era? Era o Castelo Branco e senti que surgia ali um outro Brasil desconhecido e, aí, eu vi as pedras, os anúncios, os ônibus, os postes, o meio-fio, os pneus dos carros, como um filme de horror. Eu, que vivera até então de palavras utópicas, estava sendo humilhado pela invasão do terrível mundo das coisas reais.
Depois, vi a tristeza dos dias militares, "Brasil ame-o ou deixe-o", a Transamazônica arrombando a floresta, vi o rosto patético de Costa e Silva, a gargalhada da primeira perua Yolanda, mandando o marido fechar o Congresso. Vi e ouvi Jorge Curi na TV, numa noite imunda e ventosa de dezembro lendo o AI-5, o fim de todas as liberdades, a morte espreitando nas esquinas, a gente enlouquecendo e fugindo pela rua em câmera lenta, criminosos na própria terra.
Depois, vi o rosto terrível do Médici, frio como um vampiro, com sua mulher do lado, muito magra, infeliz, vi tudo misturado com a Copa do mundo de 70, Pelé, Tostão, Rivelino e porrada, tortura, sangue dos amigos guerrilheiros heróicos e loucos, eu sentindo por eles respeito e desprezo, pela coragem e pela burrice de querer vencer o Exército com estilingues.
Não vi, mas muitos viram meu amigo Stuart Angel morrendo com a boca no cano de descarga de um jipe, dentro de um quartel, na frente dos pelotões, enquanto, em S.Paulo, Herzog era pendurado numa corda e os publicitários enchiam o rabo de dinheiro com as migalhas do "milagre" brasileiro, enquanto as cachoeiras de Sete Quedas desapareciam de repente.
Depois eu vi os órgãos genitais do General Figueiredo, sobressaindo em sua sunguinha preta, ele fazendo ginástica, nu, para a nação contemplar, era nauseante ver o presidente pulando a cavalo, truculento, devolvendo o país falido aos paisanos, para nós pagarmos a conta da dívida externa. [...]
(Arnaldo Jabor, jornalista)
1 - O texto acima representa um trecho da crônica de Jabor. Evidencia-se nele o caráter extremamente violento do regime militar instaurado no Brasil com o Golpe de 64.
a) Destacar duas passagens da crônica que comprovem essa afirmação.
b) Em que medida se pode considerar que o conto “Feliz ano novo”, de Rubem Fonseca, escrito justamente nos anos 70, apresenta um universo relacionado a esse contexto sócio-histórico? Justificar a resposta com elementos extraídos do conto.
2 – Citar duas palavras ou expressões da crônica que
a) evocam imagens do horror dos “dias militares”.
b) revelam o enojamento do cronista diante da ditadura militar.
3 – Explicar a seguinte afirmação: O título da crônica evoca o poema “I Juca Pirama”, de Gonçalves Dias, parodiando a situação narrada.
4 – Enquanto a sociedade brasileira “distraía-se” com a Copa de Futebol de 70, muitas das pessoas que tentavam resistir à ditadura eram torturadas e mortas. Esse contexto é mostrado em qual passagem da crônica?
5 – Em “eu entendi ali, com o Jânio saindo, que os bons tempos ... tinham acabado” e “senti que surgia ali um outro Brasil”, o advérbio ali não está se referindo a lugar.
a) Que tipo de relação ou referência essa palavra estabelece no texto?
b) Escrever uma expressão que tenha sentido equivalente ao que ali assume no texto.
6 – Colocar V ou F, conforme as afirmações sobre a crônica acima ou sobre o conto de Rubem Fonseca sejam verdadeiras ou falsas, respectivamente.
( ) A crônica revela que natureza brasileira foi bastante degradada durante o regime militar.
( ) Jânio Quadros, citado na crônica, renunciou à presidência do Brasil porque era alcoólatra.
( ) O cronista deixa entrever que o General Costa e Silva agia sob manipulação.
( ) A classe média apoiou o Golpe, daí Jabor afirmar que “Eu vi, meninos, como num pesadelo, a população festejando a vitória do fascismo, com velas na janela e rosários na mão”.
( ) Tostão, Rivelino, Stuart Angel e Herzog são citados como heróis que sofreram tortura.
( ) Stuart Angel e Herzog são citados como guerrilheiros que sofreram tortura.
( ) Herzog, jornalista morto por enforcamento na prisão, foi dado como suicida pelos militares.
( ) Para o cronista, a UNE era um antro de subversivos.
( ) Costa e Silva foi capa da revista “O Cruzeiro”.
( ) Sete Quedas deu lugar à usina hidrelétrica de Itaipu.
( ) JK, Mourão Filho, Castelo Branco, Costa e Silva, Médici e Figueiredo fizeram parte do governo militar.
( ) JK foi o primeiro modelo de carro nacional.
( ) O “milagre” brasileiro foi realizado pelo padre Cícero, no nordeste do Brasil.
( ) O cronista releva sua repulsa diante da ditadura militar através de expressões como: “alguma coisa suja”, “noite imunda”, “nauseante”.
( ) Em “trem fantasma”, “pesadelo”, “filme de horror”, “gargalhada da primeira perua”, “vampiro”, observa-se a visão distorcida da realidade por parte do cronista.
( ) Durante o assalto à residência onde ocorria uma festa, os personagens de “Feliz ano novo” usaram as seguintes armas: uma metralhadora e uma carabina doze.
( ) Durante o assalto à residência onde ocorria uma festa, os personagens de “Feliz ano novo” usaram as seguintes armas: uma metralhadora e dois revólveres Magnum.
( ) No conto, a mulher tida como dona da casa provavelmente morreu estrangulada.
( ) No conto, a mãe da mulher tida como dona da casa provavelmente morreu de susto.
( ) Zequinha, chamado pelo narrador de Inocêncio, matou uma moça no sofá, executando-a friamente.
( ) Gonçalves não tinha receio de chutar macumba.
( ) Pereba defecou no local do crime.
( ) O personagem-narrador defecou no local do crime.
( ) A narrativa de “Feliz ano novo” é feita em terceira pessoa.
( ) Cogitaram que o personagem Crispim poderia ser homossexual, mas que esse fato não o desmereceria.
( ) Dona Candinha e o personagem-narrador moram numa favela do subúrbio do Rio de Janeiro.
( ) Zequinha, chamado pelo narrador de Inocêncio, matou uma moça no sofá, executando-a friamente.
tem gabarito para estas respostas ?
ResponderExcluirtem gabarito para as perguntas do texto ?
ResponderExcluirNão tem as respostas?
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