Ocorre a polissemia quando um único significante está associado a significados distintos. No exemplo abaixo, o efeito de humor advém das diferentes interpretações da palavra fazendas, as quais se sobrepõem:
Primeiro foi aquela gata maravilhosa (wonderful pussy) que dizia ser proprietária de grandes fazendas! Eu acreditei? Na verdade eram mesmo fazendas, só que daquelas que após alguns meses viram trapos! Era um monte de panos! (SANTOS, Osmar A. Sem rei, nem bar, somente Osmar. São Paulo: Com-Arte, 1996)
A ocorrência da polissemia é um fato muito comum na língua. Tanto que, ao consultarmos um dicionário, no mais das vezes, encontramos uma enumeração das várias acepções (significados) de uma palavra. Em geral, a ordem de enumeração das acepções corresponde à da maior para a menor frequência com que cada significado é usado pela comunidade linguística.
Observe como se constitui o verbete margem no dicionário (FERREIRA, Aurélio B. H.; J.E.M.M. EDITORES. Dicionário Aurélio básico da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995):
margem. S. f. 1. Parte em branco ao redor de uma folha manuscrita ou impressa, a qual parte pode às vezes conter ilustrações e notas. 2. Linha ou faixa que limita ou circunda alguma coisa; borda, beira, orla. 3. O terreno que ladeia um curso de água ou que circunda um lago; beira, orla. 4. O litoral, a costa. 5. Leira de terra lavrada compreendida entre dois sulcos. 6. Fig. Espaço livre, de tempo ou de lugar. 7. Fig. Ensejo, ocasião, oportunidade. <> Margem direita. A margem de um curso de água que fica à direita de quem olha para jusante. Margem esquerda. A margem de um curso de água que fica à esquerda de quem olha para jusante. Dar margem a. Dar ocasião, proporcionar ensejo a.
Nesse verbete, contam-se sete acepções enumeradas da palavra-entrada margem, mais dois sentidos específicos da terceira acepção (margem direita e margem esquerda), mas o sentido da palavra na expressão dar margem a.
A polissemia se desfaz, geralmente, quando consideramos o contexto textual em que a palavra é usada. Por exemplo, nas frases a seguir, a palavra margem está empregada nas acepções 1 (a) e 3 (b):
a) A numeração da página está na margem inferior.
b) Na margem do lago, os patos se reuniam.
O conceito de polissemia está relacionado ao de homonímia. A rigor, a homonímia ocorreria quando palavras de origem diferente terminassem por ter um significante comum, no decorrer de sua evolução fonética. No dicionário, usualmente os homônimos são registrados em verbetes distintos e enumerados. Por exemplo:
cirro 1. S. m. 1. Met. Nuvem constituída de cristais de gelo [...]
cirro 2. S. m. Patol. Câncer com abundante tecido fibroso.
Nos estudos linguísticos atuais, sem levar em conta a evolução das palavras no tempo, entendem-se como homônimas todas as palavras de mesmo significante e diferentes significados. E subdividem-se os homônimos em dois tipos: homônimos homógrafos (que se pronunciam e escrevem-se da mesma forma, como cirro1 e cirro2); homônimos homófonos (que se pronunciam de maneira idêntica, mas escrevem-se de forma diferente, como incerto, duvidoso, e inserto, inserido).
O uso de homônimos homófonos é motivo frequente de equívocos. O mesmo se dá com o uso de parônimos, palavras de significantes parecidos, como ratificar (confirmar) e retificar (corrigir).
No vídeo a seguir, o professor descreve e exemplifica, de modo simples o uso de homôninos homófonos e de parônimos:
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