Segue o
pronunciamento do Prof. Luiz Leduíno de Salles Neto, Pró-Reitor de Assuntos
Estudantis da Unifesp, sobre a greve dos estudantes e a nota pública dessa
Pró-Reitoria a respeito da atuação da Polícia Militar no campus de Guarulhos
(os grifos são nossos). Abaixo destes textos, seguem os vídeos da repressão
policial do dia 14 de junho e da reintegração de posse do dia 6 de junho, feita
Pelotão de Choque da PM de São Paulo.
Pronunciamento
feito na reunião do Conselho Universitário da UNIFESP realizado no dia 13 de
junho de 2012
Prezado Professor Albertoni, presidente do
Consu, Prezados Conselheiros e Conselheiras, Prezados membros da Comunidade que
nos assistem.
Gostaria de me pronunciar sobre a greve estudantil na Unifesp. Já nos
reunimos com a comissão de diálogo dos estudantes do campus Guarulhos, com os
comandos de greve dos campi São Paulo e Diadema, e estamos agendando a primeira
reunião com o comando de greve do campus Osasco.
Na
nossa opinião, todas as pautas de reivindicações têm pontos muito relevantes e
que visam à melhoria das condições de permanência, ensino, pesquisa e extensão
em nossa universidade.
As
greves em curso não são apenas legítimas, mas também compreensíveis. Com
efeito, existem dificuldades na infraestrutura em praticamente toda a
universidade. E creio não ser justo e educativo responsabilizar os órgãos de
controle e fiscalização, ou mesmo a legislação, pela crise. Tampouco concordo
que o REUNI, como programa de Estado, tenha sido um equívoco, muito pelo
contrário, o Brasil precisava desse aumento substancial de vagas públicas no
ensino superior e precisa ainda mais.
Como cidadãos brasileiros, devemos saudar o
fortalecimento do ministério público, do tribunal de contas da união (TCU) e da
controladoria geral da união (CGU). Estamos do mesmo lado. Como gestores,
contamos com o inestimável auxílio da Advocacia Geral da União (AGU).
Realmente, não é fácil ser gestor público, mas felizmente temos um quadro de
técnicos administrativos extremamente competente. O que precisamos é de uma
urgente e exponencial ampliação desse quadro. Essa pauta também é de todos,
creio.
Também não é justo dizer que movimentos têm
interesses partidários: não corresponde à realidade. Podem existir pessoas
filiadas a partidos, como em todas as instâncias: os partidos políticos são
legítimos e legais em nosso país, após uma dura luta política, onde muitos
pagaram com a própria vida. Vale observar que esse egrégio Conselho
Universitário escolheu, como representantes da comunidade externa, duas
conhecidas lideranças partidárias de São Paulo.
Outro
argumento que ouço e considero inoportuno, é de que “no tempo do governo FHC
era muito pior”. Primeiro, não devemos nivelar por baixo as políticas
educacionais. Segundo, o povo brasileiro derrotou o projeto de sucateamento da
educação e do serviço público nas últimas três eleições presidenciais. Assim, o
que se exige, é que o governo atual cumpra o mandato dado nas urnas.
Não
devemos, assim, esperar que os estudantes aceitem condições desfavoráveis de
estudo. Eles lutam por um direito! Mais do que esclarecimentos
sobre a legislação, sobre a lei 8666, que não é a única responsável pelos
atrasos na obras, precisamos ser sinceros, precisamos dar e mostrar
encaminhamentos concretos. Mais do que
esclarecer como se dá o orçamento da universidade, precisamos permitir que a
comunidade universitária participe, que todos sejam atores do planejamento
orçamentário.
Por fim, ressalto que, baseado nos valores da PRAE, em especial o compromisso com a
democracia, e o respeito à diversidade intelectual, artística, social e
política, não concordamos com a repressão a nenhum movimento reivindicatório, a
nenhum ato político, a nenhuma opinião política, a nenhuma pessoa. Apostamos
no diálogo como único meio para solução de uma crise.
Nenhum dos lados deve abdicar da mesa de
negociação.
Agradecemos críticas e sugestões - estamos
aprendendo fazendo, pautados nos princípios expostos. Muito obrigado.
Luiz Leduíno de Salles Neto, Pró-reitor de
Assuntos Estudantis da Unifesp
Nota pública da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (em 15 de junho de 2012)
Frente à ação policial ocorrida no campus
Guarulhos da Unifesp no dia 14 de junho de 2012, a Pró-Reitoria de Assuntos
Estudantis (PRAE) manifesta a toda
comunidade acadêmica e a toda sociedade o veemente repúdio à opção de tratar as
questões universitárias, por mais complexas e controversas, por meio da
violência.
Ressaltamos que são valores da PRAE o
compromisso com a democracia e o respeito à diversidade intelectual, cultural,
social e política.
Moção de apoio à gestão da atual Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis, por sua postura democrática frente à greve estudantil e contrária à repressão da PM #ficaleduino
Vídeo mostrando a repressão da Polícia Militar contra os estudantes, no
dia 14 de junho
Imagens da reintegração de posse, no dia 6 de
junho
No dia 24 de
maio, os alunos, em assembleia geral, haviam deliberado pela ocupação, objetivando
o atendimento de suas pautas. Foi a segunda ocupação da Diretoria Acadêmica do
Campus Guarulhos durante a greve, que se estende desde 22 de março de 2012. A primeira reintegração de posse foi negada
pela 1ª Vara da Justiça Federal em Guarulhos, determinando o prazo de cinco
dias para que a Unifesp comprovasse as providências adotadas, desde 2010, para
melhorar o campus de Guarulhos.
Em 6 de junho,
46 estudantes foram detidos e levados à Superintendência da Polícia Federal, na
Lapa, em São Paulo, onde permaneceram presos por 13 horas. A reintegração de
posse foi cumprida, sem que a Unifesp se pronunciasse oficialmente ao corpo
estudantil sobre as melhorias realizadas na campus desde a greve de 2010.
Devido à falta de pronunciamento da Reitoria, os estudantes deliberaram que
permaneceriam na ocupação, não aceitando a decisão judicial e aguardariam uma
posição oficial da Universidade, que não compareceu perante os estudantes no
momento da reintegração de posse.
Comunicado
dos estudantes a respeito dos fatos:
Nota
da ocupação à sociedade brasileira
Abaixo-assinado Nós somos a maioria! Unifesp sem
violência! Apoio aos estudantes!
Para:Alunos,
professores universitários, sociedade civil
Diante dos últimos acontecimentos na Unifesp Guarulhos, que respondeu com
truculência às manifestações dos estudantes, viemos à público afirmar ao
professor Walter Albertoni, Reitor da Unifesp, que sim, nós somos a maioria!
Somos professores, pesquisadores, jornalistas, mães, pais, trabalhadores que
são contra a violência na Universidade Pública. A sociedade que é contra a
violência é a maioria. A sociedade que é plural, democrática e para todos é a
maioria. Nós somos contra respostas violentas à oposição e à manifestações,
ainda que estas manifestações sejam de uma minoria! Nada justifica a violência!
Vivemos em uma democracia e muitos morreram em nome da liberdade de expressão,
muitos lutaram para que todos os grupos, maioria ou minoria, pudessem manifestar
suas posições. Por isso, professor Albertoni, nós, a maioria, pedimos o
afastamento imediato do professor Marcos Cezar Freitas da direção do campus de
Guarulhos e abertura de uma sindicância para apurar suas ações truculentas!
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