quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Lei sobre ensino da cultura africana e reflexões sobre o “ser branco”

Luciana Alves, pedagoga e professora de educação infantil, apresentou estudo na Faculdade de Educação da USP (FE-USP), Significados de ser branco – a brancura no corpo e para além dele. Nesse trabalho, a pesquisadora constatou que a escola apresenta um discurso racista no qual a questão da “branquitude” é fato omitido nos debates sobre raças. Isso que favorece o entendimento de que o branco possa sentir-se superior e neutro em relação ao tema e que se perpetuem os estereótipos sobre o “ser negro”.

Para Alves, ações afirmativas, como a lei sobre ensino da cultura africana, só fazem sentido se forem realizadas em ambiente de reflexão e reconstrução sobre o “ser branco”.

Para saber o que pensavam sobre “o que é ser branco no Brasil”, Alves entrevistou dez professores de ensino básico, dos quais, quatro se autodeclararam brancos e seis negros. Eles foram selecionados por Alves quando participavam de um curso sobre a Lei 10639/2003, que obriga o ensino de cultura e história africana e afro-brasileira nas escolas.

Alves comenta que cerca de 50% da população brasileira se autodeclara branca, o que demonstra que o discurso corrente sobre a miscigenação mascara razões que levam as pessoas a se declararem brancas, mesmo tendo origem mestiça. Alves reconhece que os significados de “ser branco” situam-se para além da cor da pele. Trata-se de um conjunto de características atribuídas culturalmente às pessoas que se reconhecem e são reconhecidas em suas comunidades como brancos.

Ao declarar que “ser branco é não ser negro”, um dos entrevistados deixou em evidência que o significado de ser negro é construído como o contrário de ser branco. Associadas a essa distinção, aliam-se ao branco características socialmente tidas como positivas, enquanto ao negro agregam-se características negativas. Por exemplo, a inteligência, a castidade, a beleza, a riqueza, a erudição e a limpeza, seriam características de um “negro de alma branca”, expressão utilizada por um dos professores entrevistados.

Nas entrevistas dos negros, além da reafirmação da positividade da “branquitude”, o discurso revelou sensação de medo, insegurança, opressão e desconfiança - o que recupera e atualiza a imagem histórica do branco como potencialmente opressor para o negro.

Segundo Alves, “é preciso entender que os brancos também formam um grupo racial que defende seus interesses, e acabam se beneficiando, direta ou indiretamente com o racismo”.  No ambiente escolar, a ideia da superioridade do branco deveria ser questionada. “É aí que entra a formação adequada dos professores, como aposta para que a idealização branca deixe de ser objeto de desejo para negros e brancos, pois ela pressupõe hierarquia”, argumenta a pesquisadora.

Mais informações: (11) 9787-6427 - email: luciana_lualves@yahoo.com.br

Fonte: Agência USP de Notícias, Brasil atualiza o racismo por não discutir “branquitude”, por Glenda Almeida (glenda.almeida@usp.br), 8/12/2010.

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