Preocupados com o significado da candidatura Serra, respeitados professores de renomadas universidades do país assinam Manifesto em Defesa da Educação Pública:
Nós, professores universitários, consideramos um retrocesso as propostas e os métodos políticos da candidatura Serra. Seu histórico como governante preocupa todos que acreditam que os rumos do sistema educacional e a defesa de princípios democráticos são vitais ao futuro do país.
Sob seu governo, a Universidade de São Paulo foi invadida por policiais armados com metralhadoras, atirando bombas de gás lacrimogêneo. Em seu primeiro ato como governador, assinou decretos que revogavam a relativa autonomia financeira e administrativa das Universidades estaduais paulistas. Os salários dos professores da USP, Unicamp e Unesp vêm sendo sistematicamente achatados, mesmo com os recordes na arrecadação de impostos. Numa inversão da situação vigente nas últimas décadas, eles se encontram hoje em patamares menores que a remuneração dos docentes das Universidades federais.
Esse “choque de gestão” é ainda mais drástico no âmbito do ensino fundamental e médio, convergindo para uma política de sucateamento da Rede Pública. Desde 2005, São Paulo perde sistematicamente colocações no ranking do Ideb, que avalia o ensino médio. Neste ciclo, onde se sente mais claramente as deficiências dos anos anteriores de aprendizado, São Paulo passou de quarto para sexto colocado.
Os salários da Rede Pública no Estado mais rico da federação são menores que os de Tocantins, Roraima, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Espírito Santo, Acre, entre outros. Somada aos contratos precários e às condições aviltantes de trabalho, a baixa remuneração tende a expelir desse sistema educacional os professores qualificados e a desestimular quem decide se manter na Rede Pública. Diante das reivindicações por melhores condições de trabalho, Serra costuma afirmar que não passam de manifestação de interesses corporativos e sindicais, de “tró-ló-ló” de grupos políticos que querem desestabilizá-lo. Assim, além de evitar a discussão acerca do conteúdo das reivindicações, desqualifica movimentos organizados da sociedade civil, quando não os recebe com cassetetes.
Serra escolheu como Secretário da Educação Paulo Renato, ministro nos oito anos do governo FHC. Neste período, nenhuma Escola Técnica Federal foi construída e as existentes arruinaram-se. As universidades públicas federais foram sucateadas ao ponto em que faltou dinheiro até mesmo para pagar as contas de luz, como foi o caso na UFRJ. A proibição de novas contratações gerou um déficit de 7.000 professores. Em contrapartida, sua gestão incentivou a proliferação sem critérios de universidades privadas. Já na Secretaria da Educação de São Paulo, Paulo Renato transferiu, via terceirização, para grandes empresas educacionais privadas a organização dos currículos escolares, o fornecimento de material didático e a formação continuada de professores. O Brasil não pode correr o risco de ter seu sistema educacional dirigido por interesses econômicos privados.
No comando do governo federal, o PSDB inaugurou o cargo de “engavetador geral da república”. Em São Paulo, nos últimos anos, barrou mais de setenta pedidos de CPIs, abafando casos notórios de corrupção que estão sendo julgados em tribunais internacionais. Sua campanha promove uma deseducação política ao imitar práticas da extrema direita norte-americana em que uma orquestração de boatos dissemina a difamação, manipulando dogmas religiosos. A celebração bonapartista de sua pessoa, em detrimento das forças políticas, só encontra paralelo na campanha de 1989, de Fernando Collor.
Entre, as atuais mais de 4 mil assinaturas, contam-se as de Antonio Candido, USP; Alfredo Bosi, USP; Fábio Konder Comparato, USP; Carlos Nelson Coutinho, UFRJ; Eduardo Viveiros de Castro, UFRJ; Joel Birman, UFRJ; Marilena Chauí, USP; Renato Ortiz, Unicamp; Sergio Miceli, USP; Emir Sader, UERJ; Enio Candotti, UFRJ; João Quartim de Moraes, Unicamp; Flavio Aguiar, USP; Armando Boito, Unicamp; Ligia Chiappini, Univ. Livre de Berlim; Vinicius Berlendis de Figueiredo, UFPR; Eduardo Rolim de Oliveira, UFRGS; Antonio Carlos Mazzeo, Unesp; Marly de Elyeser Szturm, UnB; Anselmo Pessoa Neto, UFG; Ernani Chaves, UFPA; César Ricardo Siqueira Bolaño, UFS; João Emanuel, UFRN; José Geraldo Silveira Bueno, PUC-SP; Arlenice Almeida, Unifesp; Carlos Ranulfo, UFMG; Silvia de Assis Saes, UFBA; José Luiz Vieira, UFF; Luiz Hebeche, UFSC; Lygia Pupatto, UEL-PR; Aldo Duran, UFU; Horácio Antunes, UFMA; Igor Fuser, Faculdade Cásper Líbero; Ricardo Kosovski, UNIRIO; Ricardo Mayer, UFAL; Alex Fabiano Jardim, Unimontes; Alfredo Cordiviola, UFPE; Alícia Gonçalves, UFPB; Ana Maira Coutinho, PUC-Minas; André Figueiredo, UFRRJ; André Leclerc, UFC; André Paulo Castanha, Unioeste; Bruno Guimarães, UFOP; Carlos Bauer, Uninove; José Artur Quilici Gonzalez, UFABC; José Luiz Ferreira, UFERSA; Joziane Ferraz de Assis, UFV.
A fonte do Manifesto é o link a seguir, através do qual se tem acesso aos dados atualizados dos signatários do documento e onde se informa que as adesões ao documento devem ser feitas por e-mail para emdefesadaeducacaopublica@gmail.com
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